Thursday, 1 December 2011

Teresa e o bolo de bolacha (maria?)


Conheci a Maria Teresa Horta a semana passada. Foi emotivo conhecê-la e ouvi-la, estar perto dela e fazer-lhe perguntas. Mudou tudo saber certas coisas, como por exemplo, que ela tinha vindo falar-nos apesar de o neto a esperar nessa tarde em Lisboa, a ela e ao bolo de bolacha ainda por fazer. Imaginei-a na cozinha a olhar para as bolachas maria em cima do balcão, e depois a ir buscar a manteiga ao frigorífico com aqueles dedos longos cheios de anéis. A lavar os anéis depois de o bolo estar já em cima da mesa, nos dedos do neto. Esta Maria Teresa contou muitas histórias com uma generosidade que eu não esperava. Não sei bem por que razão eu não esperava a generosidade. Senti-me pequena, quase neta de novo, naquela sala. Havia muito amor ali, fios de amor que se cruzavam na lã do ar. Nós, os do projecto, fazendo perguntas como se de médicos amorosos nos tratássemos, buscando sintomas nas memórias dela, inquirindo, observando, rabiscando. Novas Cartas, agora que as tres-leio, fazem-me pensar muito mais no amor do que antes. No que há de antiquado nisso de escrever (cartas de) amor. Quero ler A Lover's Discourse do Barthes, mas enquanto não leio, vou vendo The Deep Blue Sea, e lendo outras coisas, como o Museu da Inocência do Orhan Pamuk, dentro do qual os dois amantes reconhecem agora mesmo que,

 "the gap between compassion and surrender is love's darkest, deepest region" (pp. 141)

Claro que todas as cartas de amor são ridículas. Até esta. Apetece-me desdenhar. O que pode o amor? O amor em carta ou em blog, o que pode, o que explode? Sim manas, "como imaginar o amor num mundo todo torto?" (NCP, pp. 301)