Gosto desta casa. No outro dia, quando saí para jantar com umas amigas que já não via há muito tempo, uma delas perguntou-me se vivia sozinha. Ela já sabia que eu alugava um apartamento, mas queria confirmar que eu não estava a partilhar com ninguém. Confirmei. Então ela mostrou-me aquele lado dela que é e será sempre o completo oposto de mim, dizendo-me que nunca seria capaz de viver só. Eu disse-lhe que precisava muito da solidão, para me encontrar. Foi aí que me lembrei das nossas conversas, quando éramos as duas muito adolescentes e íamos sempre juntas para todo o lado, dos nossos planos de querermos viver sozinhas antes de nos casarmos. Não sabíamos nada do que nos esperava, mas já nos revoltávamos contra o que esperavam de nós. Revoltávamo-nos desta forma, jurando a pés juntos viver uns anos sozinhas, sem maridos nem filhos, e já empregadas, a ganhar dinheiro e independentes. Olho para esta casa e dou comigo a viver nela o meu plano adolescente. Tão longe da Sertã e do que eu era, mas perto do que eu queria ser.
Às vezes sinto que nunca parei de ser adolescente, e que o sou sempre mais e mais. Talvez porque nunca o fui como devia ter sido.