Monday, 30 August 2010

guia do que vai ser

A página sobre as três Marias na Wikipédia já tem lá uma referência digna daquelas que me/nos interessam (obrigada Anna pela rapidez da modificação!). Agora mãos à obra para melhorar os conteúdos relativos ao livro. Há espaço para mais Anas que se queiram juntar ao diálogo.

Saturday, 28 August 2010

blog elástico translinguístico

(Running the risk of sounding too serious about a simple blog that can be deleted in five seconds, there's a question this interlocutora invisível needs to ask)

What sort of blog would I like mine to be?

First, I would like it to be elastic, able to include all sorts of details and ideas and facts and fears and projects (not just mine, if possible) about the three Marias. But basically I would like it to help me describe thoughts. I'm not very good at that in real life. So, I really want to use this blog to force me into curiosity about whatever happens around me. I guess the first very basic thought I would like to "exercise" here is that the three Marias's Novas Cartas Portuguesas (1972) is not an easy read. It's really hard to follow, and can therefore become boring, with its loucura frásica, its maleabilidade de sentidos, its tendência para a inconclusão, its at times essentialised roundabout pages. There, I've said it. But once you've read it, it starts making sense. Each carta filters your attention to something that lies underneath the texture of the page. In my case, the book really started capturing my attention nine years after I first read it - so there you go, if you just bought the book, you've got time. I think it's a great book. Why else create a blog about it? The thing is, this is not just a blog about the three Marias. It's really a blog about my project about the three Marias. But we'll get there. First I need to convince some institution somewhere to fund it.

(to be continued - I hope!)

a que mãe fugimos?

"E às vezes um pouco como desterradas nos sentimos; se sente a mulher quando não cumpre a figura imposta pelos tempos, não a interpreta e assim tenha de procurar caminhos, outros 'países' onde viva em diferença do seu, país dado pelo útero da mãe. A que mãe fugimos? Que mãe nos fugiu?"
(NCP, pp. 112)

Wednesday, 25 August 2010

Capa da Flama - 17 Maio 1974



E aqui encontram um artigo publicado pela Time (23 Julho 1973)dedicado às três Marias.

O que diz a Wikipédia sobre as três Marias?

A página da enciclopédia livre dedicada ao tema "as três Marias" só podia ser uma página de "desambiguação". Isto significa que refere artigos diversos "associados a um mesmo título". A saber:

- as três Marias - telenovela da Globo de 1980
- as três Marias - filme brasileiro de 2002
- as três Marias - de Rachel de Queiroz de 1939

O termo pode ainda referir-se a:

- bairro de Nova Iguaçu
- município de Minas Gerais
- três estrelas da constelação de Orion
- conjunto musical feminino dos anos 40 e 50

(...)

Alguém sabe como é que se modificam artigos na Wikipédia?

a cavaleira da escola da sertã

Encalhei na "Carta do Cavaleiro de Chamilly a Dona Mariana Alcoforado". Admito, foi o francês que me desanimou. Enquanto vagueio sem norte pelas primeiras frases da carta, lembro-me da minha professora de francês. Andava eu na secundária. Era bonita, todos os rapazes gostavam dela. Quando vestia as calças de pele pretas, parecia uma cavaleira. A cavaleira da escola da Sertã deu-me um 18. Eu era boa nas línguas. A bem dizer, marrava. Sempre marrei e nunca me baldei. Agora encalho no francês das três Marias e pergunto-me se não teria valido a pena ter-me baldado de vez em quando às aulas da cavaleira.

Tuesday, 24 August 2010

foi leite creme...

... por isso resolvo pegar neste livro vermelho. Resolvo relê-lo. Já não sou fantasia imaginada, os meus dez dedos são realidade há 31 anos. Há que relê-lo.

intróito 3 - ligeiramente mais longo, mas último

Fui, antes de nascer, dez fantasias de dedos bem arquitectados num lugar longe do Treze (mãe sentindo-se habitada antes de o ventre crescer), dedos imaginados longe dizia eu, mas claramente só imaginados ainda, e por isso mesmo capazes de tactear habilmente três cheiros distintos a frango em três distintos pratos entre três garfos e três facas desunidas em uníssono no Treze. Oh Nihil, três frangos para a mesa das meninas. Empregado de mesa esticando o olho pestanudo para as pernas longas das clientes. As clientes fixando o seu corpo, o macho sentindo-se desviado. Eu vendo como elas, as clientes, desviam realidades com os olhos, enquanto comem franguinhos subversivos. Cada asa, pata, coração, fígado, fibra de peito alimenta já pensamentos que se escreverão no sofá de casas, não ali. Entre lençóis. No banho. No carro. No elevador. Em frente ao póster do homem na lua.

Ao entrar, escolho esta mesa estratégica, sento-me, olho em volta, peço um café. Não sei onde colocar as minhas dez fantasias de dedos. Observo pela margem do olho que há-de ser os papéis que passam de mão em mão por cima do frango. Parecem papéis inocentes, rabiscos tontos, mas são cartas inventadas. A mesa é um pouco pequena para todas as mãos, pratos, copos, cartas. Uma cliente dispara cara séria de improviso entre garfadas de franguinho subversivo. Ex(er)citam-se. Amor ou morte com batatas fritas, arroz e salada? Água com gás para uma, para as outras natural. A do sol no cabelo queixa-se de dor de cabeça, vigiando o empregado. Tudo tão real. Franguinhos subversivos e gente passando lá fora. Apenas um vidro entre elas e todos os frangos do mundo aguardando os almoços da semana que vem, sem saída. Seu único destino: mulher de lenço na cabeça a depená-los já degolados, e panela de água a ferver repleta de outros, esperando em vapor atrás do Treze, com criançinha tresmalhada ao fundo a olhar a velha que depena e que talvez também tenha matado. Ou simplesmente frangos congelados, descongelando no suplício dos fornos, jamais podendo vingar-se, não se lembrando de quem os matou, desfilando em bandejas decoradas a folhas de alface. Únicas testemunhas dos almoços no treze: as folhas de alface, murchas, nos cantos. Eu percebo que elas comem muito mais frangos do que lulas nesses almoços. Eu conheço os destinos dos frangos da semana que vem. As minhas mãos, prenúncio de futuro culinário em desastre irreversível, já nessa altura, antes de mim, nelas. Vigiando o futuro.

Se pedirem sobremesa, terão tido uma ideia. Se for arroz doce, a ideia não terá valido a pena. Se pedirem fruta, será banana. Se for leite creme estaladiço, eu sentirei vontade de construir uma terra e de a nomear. Ávidárida. Áridávida. Peçam leite creme, repito baixinho, antes de nascer, na mesa estratégica.

pequeno intróito 2

Depois de nascer não mamei, e talvez por isso as mamas se me envergonharam, recolhidas por dentro. Quem me gerou deu-se conta do risco e chorou bastante, prevendo corrosões. (Elas que sempre souberam que o objectivo não era só leite, amigas.) Acrescento que também não fui Maria por pouco, quiseram cortar um fio sonoro para justificar outros. Mas fui Ana, com mãe jurando a joelhos juntos que a partir de certa altura decidi chamar todas as bonecas do quarto de Marianas. E nem uma bárbie no grupo. Mensageira de macho me pensaram por causa das marianas. Tudo isto muito antes de saber certas coisas, retornada de onde nunca fui.

pequeno intróito 1

Quando nasci, faltavam 11 dias exactos para o Roberto Saviano existir. Eu era do tamanho de um frango (oh filha, cabias numa telha), e podia ter sido comida num qualquer Treze (nunca Catorze, jamais Doze, amigas), mas pouparam-me. À última da hora, as três escolheram lulas, e aí eu tive que nascer. Eu mesma me encontrei já na passagem a outra condição num hospital de província, desviando-me desse centro imaterializado. Por causa de apetites, deixada de fora. Dando um salto que um dia acabará em mortes. Nascendo ao lado do antes, cabelos da testa direita ensaiando caracóis, mas não mais que ensaiando, e o resto cabelos lisíssimos. Nascida também em plena era Pintasilgo, mas tendo que esperar bastante até saber de uma Maria de Lurdes que mandava, mas que , contrariamente à minha mãe, também escrevia prefácios (nunca lidos pelo Saviano). Centros dentro de centros e margens dentro de margens e o mundo no meio de tudo isto. Até uma pessoa endoidecer.