Sunday 26 September 2010

If young women are no longer marching...


Não ando a tratar bem deste blog. Não admira: passei as últimas semanas a mudar de país, de casa, de escritório, e de bicicleta. Todas estas mudanças são provavelmente temporárias, o que complica tudo.

Como resultado, as três Marias tornaram-se part-time. Enquanto organizo as aulas para o novo semestre, full time nem no pensamento - devo admitir.

Tanto é assim que não tive tempo de organizar um abstract para um evento a decorrer em Londres para o ano, que me parece muito interessante. Sobre o tópico Rebranding Feminism, encontrei esta imagem num blog recém-descoberto que parece querer dizer algo sobre o futuro do feminismo. Uma invisibilidade estratégica? Uhmm. I wonder if it's possible to overturn capital’s dynamic of appearance. I mean, isn't the problem still about rampant invisibility? Enquanto escrevo isto, penso que sou portuguesa e que talvez seja isso - e o suposto atraso teórico e histórico of my feminist gene(s) - que me faz pensar para trás, enquanto mulheres inglesas interessadas em re-nomear o feminismo pensam para a frente.

Isto tudo faz-me lembrar do filme que fui ver ontem, Made in Dagenham. Talvez se comece aqui a pensar em invisibilidade porque antes já se conseguiu ser visível? (misto de admiração e reticência).

Faz-me também pensar na excelente introdução do livro O Formato Mulher, onde se defende "a necessidade de formular contra-argumentos que antecipem eventuais acusações de atraso teórico e crítico" (Klobucka 2009: 17).

Eu, que sou lenta e atrasada por excelência, e que entendo bem as desvantagens de o ser no dia a dia, pergunto-me. Como confiar num suposto anacronismo sem perder de vista o que pode vir a seguir?

Wednesday 8 September 2010

follower de mim mesma

Pensei em apagar as duas últimas linhas do meu último post. Os blogues tem destas comodidades. Em vez de as apagar, resolvi escrever outras neste. Será verdade que ao imaginar Marianas por nomear em Maputo estou a fixar os sentidos? como imaginá-las sem as fixar? É claro, as três Marias não eram nenhumas santinhas do pé descalço, e também fixaram sentidos. Elas imaginaram, por exemplo, Marianas casadas e por isso conquistadas, sem se lembrarem de dizer, sou preta, sou branca, sou de lisboa, ou da sertã, ou da matola.

O que era bom era eu escrever isto num comentário e não aqui, interlocutora invisível de mim mesma é como me sinto, desculpem os círculos (e os vícios).

Friday 3 September 2010

A página da wikipédia dedicada às Novas Carta Portuguesas já foi renovada, graças à ajuda invisível mas preciosa da Anna. Olhos postos agora em páginas "vizinhas", como aquelas dedicadas às Lettres Portugaises, e a Mariana Alcoforado.

por virtude do muito imaginar Marianas por nomear

Deu-me, no outro dia, para escrever uma carta. Podia ter escrito um email, mas apeteceu-me escrever uma carta, se bem que não foi só para me comprazer na minha condição de sobrinha-mariana-em-décimo-sétimo-grau. Não só mas também. Depois de gastar umas boas páginas por causa de erros importunos, e de me ter confrontado com uma caligrafia largamente desconhecida no que diz respeito aos "E" grandes e aos "t" pequenos, lá me resignei a lamber o envelope. Depois, caminhei até aos correios com o dedo indicador da mão direita bastante dorido. Enviei-a, não à destinatária Paulina, mas a uma mulher de nome Cristina Joanaz (que nome, amigas), residente em Lisboa, que depois a terá colocado nas mãos da minha amiga que para um se chama princesa. A amiga-princesa terá então servido de pomba correio.

Se de início me inteirei, não sem prazer, das condições labirínticas da futura chegada da carta, desde a paragem primeira em casa de Joanaz, e passado pela mala da amiga princesa-pomba, não podia prever as condições da chegada da carta (que de inocente tem pouco, não levasse ela lá dentro um pedido e um convite). A esta hora, a dita cuja já deve ter chegado ao destino Laurentino, nas periferias do qual gente se encontra a lutar e a morrer há três dias por causa do aumento dos preços do pão, electricidade e gasolina.

Imagino Marianas por nomear. Escrevem bilhetes para casa contando as mortes. Tudo o que posso fazer é ir almoçar.